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Graduação hoje é apenas título

Inicialmente cursei Sistemas de Informação presencial e posteriormente, vendo a qualidade do ensino continuei na modalidade EAD. A diferença? brusca. Presencialmente um assunto engessado, professores sem disciplina e com uma falta enorme de vontade de dar aula. Explica de qualquer jeito e fod* o aluno. A prova tá lá e você tem que se virar em casa no (youtube/udemy/cursinhos online).

No EAD me vi mais satisfeito visto que consigo ter maior flexibilidade para estudar em outros meios como nos cursos online e ter mais tempo para projetos próprios e aprender novas linguagens, coisa que presencial e trabalhando não era possível.

O que quero com esse tópico é frisar que os cursos de graduação hoje estão com uma grade atrasada, nada correlato ao mercado.
Se pretende aprender hoje alguma tecnologia, infelizmente é você e seu companheiro (PC) e quem sabe um bom livro.

Agora, qual a opinião de vocês quanto a sua graduação?

Apesar de achar que boa parte dos cursos de graduação hoje é muito ruim ( escrevi sobre isto aqui - https://www.itexto.com.br/devkico/?p=2736 ) vejo a graduação como algo vital.

Por que você não vai pra graduação pra aprender Java, Oracle, Angular. Você vai pra aprender a pesquisar e aprender a aprender a respeito destas coisas. A ter contato com materiais que vão abrir sua cabeça e te formar enquanto profissional para que, aí sim, possa se dedicar ao aprendizado das linguagens.

Você não deveria ir pra graduação pra aprender o Java, mas sim o que tornou um Java possível. Deveria ensinar os fundamentos que te possibilitam avaliar ferramentas e traçar o próprio plano de aprendizado.

Quanto ao fato de EAD ser superior à aula presencial, esta é uma experiência pessoal de cada um. Se o EAD for mal feito, pode ser ordens de magnitude pior: pode, por exemplo, não apresentar ao aluno uma sequência de passos que o leve a aprender as coisas da maneira correta.

Enquanto profissional me formei inicialmente como auto didata e, devo confessar, foi a faculdade que me lapidou. Foi lá que comecei a entender como as coisas realmente funcionavam. Há momentos em que algumas questões podem parecer defasadas: “o que é um compilador e como funciona?”. Você pensa: nunca vou usar isto na vida. Pra que aprender esta merda? Aí lá na frente você vai entender que isto te possibilita interpretar melhor resultados, construir soluções, etc.

O grande lance é responder à seguinte questão: o que você chama de “defasado”? Não estar ensinando Java 12? Se sim, seu caminho é Udemy pra aprender a operar ferramentas, não na faculdade que deveria te orientar a sair alguém capaz de trilhar o próprio caminho técnico. Se “defasado” for isto pra você, vai pra Udemy ou algum curso focado na tecnologia que quer aprender.

(e aí pergunto: se você se foca apenas no que é novo, que garantia tem de que não está sendo mais um manipulado por aí ao invés de um profissional pensante capaz de se adaptar a qualquer coisa?)

Aí voltamos ao termo “a faculdade não está atrelada ao mercado”. Ela tem de estar atrelada ao mercado? Tem, mas quão atrelada? Só pra lembrar, mercado muda semestralmente, basta ver o mundo frontend. O que a faculdade deveria te ensinar? Angular, React? Ou deveria te ensinar práticas de UX, que são a base? E de programação elementar, que é outra base?

Você pode aprender a pesquisar sem a faculdade? Claro. Também pode aprender técnicas medicinais sem ela. A questão é: seu caminho solitário tem alguma comprovação de eficácia real?

No final é questão de saber o que você quer ser: um operador de framework ou um avaliador de tecnologias e solucionador de problemas?

Sinceramente, aqueles que vi focando apenas no ferramental não se tornaram mais que operadores (excelentes operadores às vezes), mas apenas executores.

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Obrigado por sua colocação.

Quando fui escolher uma instituição para iniciar a minha primeira pós graduação, aqui em Goiânia-GO. Levei algum tempo pesquisando sobre as grades disponibilizadas por cada uma delas.

Algumas bem alinhadas com o hype tecnológico (Angular, React, e outros frameworks js). E isto para cursos relacionados com engenharia e arquitetura de software.

Em outras, encontrei grades mais conceituais e científicas, como por exemplo, padrões de projeto, qualidade de software, reutilização de software, etc.

Não pensei duas vezes ao escolher a que tinha a grade com conteúdo mais científico e conceitual.

Eu iniciei (em 2010) a minha graduação (Análise e Desenvolvimento de Sistemas), imaginando que somente a faculdade seria suficiente para me transformar em um exímio analista/desenvolvedor de software. Ledo engano!

Após algum tempo, percebi que a faculdade serviu para me transformar em um pesquisador. Característica esta, que ao meu ver, é uma das mais importantes para o profissional de software (talvez até a mais importante).

Então é isso. Concordo plenamente com o @kicolobo. Quer aprender a ser um profissional de software relevante para o mercado, que saberá sugerir e implantar soluções de software para problemas reais? Então escolha uma instituição séria que fomente e te guie para o caminho da pesquisa científica.

Agora se você simplesmente quer aprender a utilizar alguma ferramenta (técnica, linguagem, framework, etc) vá para a Udemy, Caelum, Alura ou similares.

Quanto às diferenças entre cursos presenciais ou EAD, não acredito que terão tanto impacto assim no processo de aprendizagem.

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Um choque de realidade para a grande maioria dos profissionais que está imerso no mercado operacional, ávido por absorver cada vez mais tecnologias novas e encher o currículo de siglas, é tentar enfrentar o processo seletivo das grandes como Google, Facebook, Amazon e etc (ou mesmo de empresas menos expressivas inspiradas nessas outras).

Se for para um cargo de engenheiro de software, eles costumam cobrar uma noção profunda e madura de projeto avançado de algoritmos, estruturas de dados, análise de complexidade, otimização de uso memória, acesso a disco, paralelismo, etc. pouco importando a linguagem. Nessas horas faz-se necessário todo aquele ferramental teórico dissertado na literatura clássica, como por exemplo o livro do Cormen.

Não raro você vê alguém com currículo extenso de mercado recheado de certificados ser rejeitado, ao passo que admitem alguém mais acadêmico advindo de uma instituição de ensino tradicional e renomada, com proficiência em poucas ferramentas mas com bom histórico escolar, considerando também como plus um mestrado ou doutorado.

Fica a pergunta: se os grandes players estão absorvendo essa galera com menos ferramentas mas com bons fundamentos, após um árduo e longo processo seletivo, gerenciando a questão de aprender ferramentas internamente, ao invés de jogar essa responsabilidade pro RH, não seria isso um indicativo de que o caminho imediatista e operacional das empresas recrutadoras de code monkeys descartáveis estaria fadado a um certo fracasso no médio ou longo prazo?

Qual a nossa responsabilidade nisso enquanto profissionais? Não estaríamos ajudando esse mercado a ser cada vez mais ansioso e sedento por code monkeys adestrados? Não vou ser demagogo aqui e dizer que deveríamos recusar vagas de emprego mais tecnocratas. Os boletos estão aí para serem pagos, e nem sempre há escolha… Mas precisamos admitir que há algo de nocivo para a coletividade da nossa classe quando fomentamos esse ciclo vicioso, especialmente quando viramos recrutadores.

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Ah, eu escrevi aquilo tudo e esqueci do principal: no contexto acima, talvez o mercado de ensino devesse ser mais honesto e denominar de curso técnico os cursos voltados para ferramentas (e não tem nada de errado com isso), e tentar preservar o caráter científico do curso de graduação. A sacanagem é você dar um canudo de bacharel pro aluno pra ele depois descobrir no mercado que na verdade ele fez um curso descartável de tecnologias da moda. De novo, nada de errado em existir esse tipo de curso, mas seria melhor ajustar a expectativa dando nome aos bois.

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Acho que, apesar de muitas empresas estarem atrás de operadores mecanizados e descartáveis, elas têm sim noção de como está o nível geral do ensino superior. Provavelmente é por isso mesmo que o mercado procura quem “manja da ferramenta X”, afinal se é isso que as faculdades desovam, é isso que tem disponível.
A dificuldade para você se colocar sem ter curso superior, ou tendo estudado em uma faculdade ruim, é enorme. Enquanto os que estudam nas mais renomadas, principalmente as públicas no caso do Brasil, encontram mais oportunidades nas empresas que pagam mais.
Não é que a graduação seja apenas título, é que há títulos e títulos.

Excelente comentário Henrique! Parafraseando-o, quem foca somente na ferramenta será apenas operador.

Li seu texto referenciado (excelente, por sinal), e concordo que, realmente, há esse conflito em esperar que os cursos de graduação de tecnologia acompanhem o fluxo de novas tendências do mercado. Na nossa área, é impraticável. Pois, como mesmo disse, as novas tecnologias surgem numa velocidade impressionante. E os cursos livres, realmente, preenchem esse “espaço” deixado por boa parte dos cursos.

Mas, por outro lado, é compreensível a inquietação do colega, pois não seria nada mal alguns cursos de graduação oferecerem, aliadas as já existentes, a cada semestre, algumas disciplinas optativas que abranjam novas tecnologias; proporcionando ao aluno maior aplicabilidade da base fundamental, que deve ser mantida e priorizada, com o que o mercado está demandando, atualmente.

Por fim, muito boa a discussão!

Oi Ricardo, obrigado!

Você menciona algo interessante aqui, e que é uma falha na realidade dos dois lados:

Nas boas faculdades estas matérias sempre existem, o problema aqui é a falta de comunicação das instituições para com os alunos: muitas vezes a matéria optativa/curso sempre ocorre, mas é mal divulgado. Adorei o termo que você usou: “optativas”, em faculdades tem de ser optativas mesmo, não obrigatórias, tal como vemos por aí (matéria obrigatória: Oracle 11? errado, né? Devia ser obrigatório a matéria “Bancos de dados”)

E digo mais: tem de ter mesmo, até pro aluno poder experimentar as ferramentas de mercado com base na teoria que aprende.

Dá pra usar este ponto aí até mesmo como um termômetro na avaliação das instituições, hein?

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